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Leishmaniose e a Escalada

Este artigo visa esclarecer escaladores e excursionistas sobre a leishmaniose tegumentar, uma doença que tem se tornado do interesse geral de todos, uma vez que tem acometido alguns escaladores de Belo Horizonte.
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que a doença que é conhecida popularmente como Leishmaniose na verdade são duas: leishmaniose visceral (também conhecida como calazar), que ataca órgãos internos, e leishmaniose tegumentar (também conhecida como úlcera de Bauru), que causa feridas na pele. Há também a forma mucocutânea da doença, que é um agravamento da leishmaniose tegumentar.
As leishmanioses são causadas por protozoários flagelados do gênero Leishmania. Estes parasitas atacam e destroem células de defesa do nosso corpo chamadas de macrófagos, que geralmente são encontrados no tecido conjuntivo-tecido no qual estes parasitas causam grande destruição.  No Brasil, a leishmaniose tegumentar é causada pelas espécies do complexo Leishmania braziliensis, e a leishmaniose visceral pelas espécies do complexo Leishmania chagasi (diz-se “complexo” porque o que se acreditava até algum tempo ser duas espécies, agora se sabe que são várias).

Este artigo visa esclarecer escaladores e excursionistas sobre a leishmaniose tegumentar, uma doença que tem se tornado do interesse geral de todos, uma vez que tem acometido alguns escaladores de Belo Horizonte.

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que a doença que é conhecida popularmente como Leishmaniose na verdade são duas: leishmaniose visceral (também conhecida como calazar), que ataca órgãos internos, e leishmaniose tegumentar (também conhecida como úlcera de Bauru), que causa feridas na pele. Há também a forma mucocutânea da doença, que é um agravamento da leishmaniose tegumentar.

As leishmanioses são causadas por protozoários flagelados do gênero Leishmania. Estes parasitas atacam e destroem células de defesa do nosso corpo chamadas de macrófagos, que geralmente são encontrados no tecido conjuntivo-tecido no qual estes parasitas causam grande destruição.  No Brasil, a leishmaniose tegumentar é causada pelas espécies do complexo Leishmania braziliensis, e a leishmaniose visceral pelas espécies do complexo Leishmania chagasi (diz-se “complexo” porque o que se acreditava até algum tempo ser duas espécies, agora se sabe que são várias).

Leishmania chagasi

Estas moléstias são transmitidas pela picada do “mosquito-palha”, também

conhecido como flebótomo (no Brasil, pertencem ao gênero Lutzomya). Para quem não sabe, são aqueles mosquitos que nos picam às centenas na “Sala de Justiça” do grupo 3, na Serra do Cipó, ou em praticamente qualquer lugar na região da Lapinha, em Lagoa Santa. Para que um mosquito se infecte com a Leishmania, ele tem que sugar o sangue de um hospedeiro que já esteja infectado. As leishmanias já foram observadas em diversas espécies de mamíferos, sendo que os principais hospedeiros da leishmaniose tegumentar são roedores silvestres, e os da leishmaniose visceral são canídeos.

Flebótomo (Lutzomya longipalpis)

Ciclo da leishmaniose

Os sintomas da leishmaniose visceral são: febre, perda de peso, anemia, inchaço do fígado e baço, desânimo, prostração, palidez e complicações cardíacas ou circulatórias. Pode ocorrer também tosse, diarréia e hemorragias. O tempo médio de incubação é de dois a quatro meses, podendo variar de dez dias a dois anos. O progresso da doença é extremamente variável. Quando não tratada, pode levar à morte.

Cão com leishmaniose visceral

No caso da leishmaniose tegumentar, o principal sintoma é o aparecimento de feridas na pele que não se cicatrizam (formam a “casquinha”, mas esta cai e revela que a ferida não se curou). Estas feridas geralmente são arredondadas, com as bordas elevadas e a parte interna côncava. O período pré-patente pode durar de dez dias a alguns meses. Se a doença não for tratada, estas feridas podem se aprofundar até os ossos, ou ela pode evoluir para a forma mucocutânea, que ataca as mucosas da boca, da garganta e do nariz. Este tipo de leishmaniose é muito mais agressivo, e é capaz de gerar danos que duram para o resto da vida da pessoa, mesmo após a cura.

Leishmaniose tegumentar

Forma mucocutânea

Perguntas frequentemente feitas por escaladores

P: Todas as vezes que escalo no sítio do Rod ou no Morro da Pedreira, na Serra do Cipó, sou picado por centenas de flebótomos. Quais são as chances de eu pegar a doença?
R: Muito pequenas, mas não inexistentes. No meio silvestre, geralmente, menos de 2% dos mosquitos estão infectados, e mesmo que você seja picado pelo “mosquito premiado”, ainda é necessária uma certa dose de azar para se contrair a doença. Naturalmente, se você escala com muita freqüência (ou sempre) no mesmo lugar, suas chances de se infectar são maiores.


P: Eu estou com uma ferida estranha na pele, creio que pode ser leishmaniose. O que eu devo fazer?
R: Se você suspeita que pode estar com leishmaniose, deve procurar um dermatologista rapidamente, ou marcar uma consulta no ambulatório do Centro de pesquisa Renée Rachou, em Belo Horizonte (é necessário agendar uma consulta). Se você realmente estiver infectado, deve começar a se tratar imediatamente.


P: Se uma pessoa com leishmaniose vai escalar e é picada por flebótomos, ele pode espalhar a doença por outros escaladores que são picados pelo mosquito?
R: Não. Para se entender o porquê disto, é necessário compreender o conceito de RESERVATÓRIO de leishmaniose, que é um tipo de hospedeiro capaz de suportar uma grande carga parasitária sem exibir sinais da doença. Estes animais são os responsáveis pela infecção dos flebótomos, e são eles que sustentam o ciclo da leishmaniose em uma área endêmica. Já foi provado que o ser humano é um péssimo reservatório para todas as espécies de Leishmania(este papel cabe aos canídeos para as L. chagasi , e roedores silvestres ou preguiças para as L. braziliensis), e apesar de teoricamente haver uma ínfima chance de que isto ocorra, na prática ela é desprezível. Casos de infecção antroponótica (de ser humano a ser humano, através da picada do mosquito) já foram observados no oriente médio, onde as espécies de Leishmania e do flebótomo são diferentes das do novo mundo, mas ainda não foram observados na América do Sul.


P: É realmente desaconselhável levar cães para áreas de escalada ao redor de Belo Horizonte?
R: Sim! E como!!! Os cães são reservatórios da Leishmania chagasi, e podem carregar um grande número de parasitas sem apresentar sinais da doença. Portanto, eles podem levar os parasitas da cidade para as áreas de escalada, ou vice-versa. Além disso, os flebótomos que nos picam durante o dia na Lapinha e na Serra do Cipó pertencem à espécie Lutzomya longipalpis, transmissora da leishmaniose visceral, que ainda não se tornou um problema para os escaladores.
Deixar cães de áreas habitadas seguir escaladores até bases de vias onde há flebótomos também não é atitude das mais sábias. Para se ter idéia do risco que corremos, em 2006 uma bióloga capturou e examinou canídeos silvestres (lobos-guará e raposas) e cães da Serra do Cipó, e constatou que 19% dos canídeos silvestres e 8% dos cães estavam infectados pelaLeishmania chagasi. ATENÇÃO-LEISHMANIOSE VISCERAL PODE MATAR!!!!!!!


P: Sou escalador de Belo Horizonte e estou com leishmaniose! Eu posso ter pegado a doença na cidade?
R: Sim, as duas leishmanioses são endêmicas em Belo Horizonte, e estão bem estabelecidas na área urbana.


P: Vamos desmatar e queimar as áreas de escalada, para exterminar os cães, os lobos-guará, as raposas, os roedores, as preguiças e os mosquitos!!!!! Assim não acabamos com a leishmaniose?
R: Péssima idéia! Foi o que fizeram em Teresina, no Piauí: desmataram algumas áreas no subúrbio da cidade para tentar controlar a leishmaniose. O que aconteceu foi que tanto os mosquitos quanto os roedores se deslocaram para as áreas mais habitadas e se estabeleceram no peridomicílio, o que causou um aumento notável do número casos. Além disso, apesar de não haver estudos a respeito, muitos acreditam que os desmatamentos e loteamentos na periferia de Belo Horizonte colaboraram bastante para que a situação da doença na cidade tenha se tornado a vergonha que é. Desequilíbrio ecológico só piora a situação da leishmaniose onde ela está presente, e interferir na natureza sem antes conhecê-la pode gerar resultados desastrosos.


P: Afinal, onde é que esta galera está pegando leishmaniose tegumentar? No sítio do Rod? Em Belo Horizonte? Na Serra do cipó?
R: As duas leishmanioses são endêmicas em TODAS estas áreas. No caso de uma infecção, é praticamente impossível determinar em qual delas a doença foi adquirida, uma vez que o período pré-patente pode durar meses. No entanto, uma advertência deve ser feita aos escaladores que freqüentam o sítio do Rod ou insistem em continuar escalando na lapinha, que ainda está fechada para a prática do esporte.
A região da Lapinha, que até alguns anos atrás era mais segura que as áreas urbanas de Lagoa Santa e Belo Horizonte, tem apresentado um aumento no número de casos de leishmaniose tegumentar. Diversos escaladores- incluindo alguns que só escalavam no local- tiveram leishmaniose tegumentar e acreditam ter pegado a doença na região. Recomenda-se aos escaladores que freqüentam a área levar repelentes e procurar usar roupas mais longas, para reduzir a área do corpo acessível aos flebótomos.  Eu também recomendo que evitem permanecer no mato após anoitecer. Há alguns anos atrás, três funcionários da Gruta da Lapinha que trabalhavam no turno da noite contraíram a doença, que não foi observada nos funcionários que trabalhavam durante o dia. Uma possível explicação para este fato é que talvez as espécies de flebótomo que estão transmitindo leishmaniose tegumentar na região se alimentem à noite.
Leonardo Hoffmann
Biólogo – Doutor em Parasitologia

Arquivado em: Deuter, Escalada, Minimo Impacto Tags: Escalada, Minimo Impacto

1 Comentário em "Leishmaniose e a Escalada"

  1. Maria Eline Leal disse:

    Sou criadora apaixonada por cães e na minha cidade há muitos casos de calazar. Gostaria de saber se um cão que contrai calazar e é tratado com sucesso tem chances de contrair calazar novamente. Obrigada pela atençao.
    Eline

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