Há cerca de 5 anos comecei a acompanhar as ascensões dessa fantástica escaladora austríaca, Gerlinde Kaltenbrunner. Recentemente ela alcançou o cume do K2 e teve seu nome cotado para ganhar o prêmio Aventureiro do Ano, concedido pela National Geographic. Reihold Messner certa vez concordou que Gerlinde é a alpinista mais extrema da atualidade… Bom, não faltavam motivos para “apresentar” essa alpinista ao Brasil, ainda mais que temos visto um forte movimento de escaladoras femininas por aqui, então nada mais inspirador do que ouvir algumas palavras de uma mulher que chegou ao topo, no caso que chegou em todos os “topos” acima de 8 mil metros sem auxílio de oxigênio engarrafado.
Consegui alguns minutos dela para essa rápida entrevista, bem curtinha, mas válida para conhecer um pouco sobre essa grande alpinista. Mesmo estando no meio de uma expedição, Gerlinde dedicou alguns minutos para responder… bacana!
AZ – Antes de tudo obrigado pela oportunidade da entrevista. O Brasil é um país cheio de escaladores apaixonados e com certeza seu exemplo é inspirador também para os nossos montanhistas… Não temos alta montanha e nem gelo por aqui, mas a escalada esportiva e de big wall no Brasil vem evoluindo rápido… Outros tipos de escalada lhe interessam?
Gerlinde Kaltenbrunner – Além da alta montanha eu gosto muito de escalada em rocha, em gelo e pratico ski touring durante o inverno. Mas o que eu mais gostos são rotas longas mistas (rocha e gelo) nos Alpes.
AZ – Seu primeiro cume com 8 mil foi aos 23 anos… Na alta montanha existe a crença que quanto mais jovem, mais difícil alcançar os objetivos, pois se por um lado existe um vigor físico, por outro a inexperiência pode por tudo a perder. Essa crença é real?
GK – É verdade. Escaladores jovens podem ser fortes, mas não fortes o suficiente. A mente também precisa ser forte e um dos fatores que mais passam segurança na alta montanha é a experiência.
Meu primeiro cume acima dos 8.000 foi o Broad Peak e agora olhando para trás, vejo que não sabia quase nada sobre escaladas em alta altitude. Com o tempo fui adquirindo mais e mais experiência e com essa experiência os objetivos foram se tornando maiores e mais difíceis.
AZ – Com todos os 14 cumes acima de 8 mil atingidos (sem oxigênio complementar), qual será o próximo desafio? uma vez que já se alcançou o máximo que poderia nesse esporte.
GK- Depois de atingir o cume do K2, o sonho de uma vida inteira se tornou realidade, mas o montanhismo é minha vida, portanto se posso escalar, estou sempre feliz.
No momento estamos a caminho do acampamento base do Nuptse, com meu marido Ralf Dujmovits e nosso grande amigo David Göttler vamos tentar escalar a ainda virgem rota leste do Nuptse (7861m). Um rota muito longa e bonita.
AZ – O uso do oxigênio complementar para esse tipo de escalada é válido? Ou vc acha que isso cria uma falsa sensação de segurança e por isso mesmo pessoas que não estão realmente aptas para uma escalada dessas acabam se arriscando mais do que deveriam.
GK – Isso depende do escalador. Alguns escaladores sabem exatamente o que estão fazendo. Estão aptos a escalar alta montanha e ainda assim usam oxigênio complementar. Mas existem muitas pessoas que não são escaladores e querem pisar nos mais altos cumes do mundo. Se acontece qualquer fato incomum durante a escalada eles se metem automaticamente em grandes problemas. Isso parece muito perigoso para mim.
Desde o início eu tinha certeza que não queria usar oxigênio complementar. Se não estivesse apta a escalar (por exemplo o K2) sem oxigênio complementar, jamais tentaria essa escalada.
AZ – Alpinistas de alto nível acabam criando uma relação especial com o Himalaia, com o Nepal… vc sente isso? Conhece bem a cultura local?
GK – Todos que vem ao Nepal muitas vezes, acabam criando uma relação especial com o lugar. Duas vezes por anos estamos aqui e conhecemos muitas pessoas, o que significa que temos grandes amigos aqui. Claro que uma cultura tão diferente é fascinante e já há muitos anos oferecemos ajuda, especialmente às crianças. Meu marido Ralf e eu temos um calendário de apresentações com o objetivo de arrecadar fundos para o Nepalhilfe Beilngries. No Paquistão eu patrocino uma escola para meninas, no Vale Hushe
AZ – No Brasil temos uma pequena montanhista de apenas 17 anos (Ayesha Zangaro) que iniciou um projeto de escalar os 7 cumes. Já conquistou o Kilimanjaro e o Aconcágua. Alguma dica para essa pequena montanhista?
GK – Sim eu tenho!!
O mais importante: Não aposte corrida com ninguém!
Se prepare muito bem fisicamente e mentalmente. O mais importante é escutar seu corpo. Tente entender sua voz interior para subir sem qualquer pressão.
Desculpe dizer, mas acho que você terá maior satisfação se subir apenas com a sua própria energia, sem o apoio de grandes equipes. Não aceite o desafio apenas por ser um recorde. Suba em grande estilo!
Lhe desejo tudo de bom!
Quem quiser conhecer melhor a Gerlinde pode acessar o site oficial: http://www.gerlinde-kaltenbrunner.at/en/
Por Kiko Araujo
Sensacional. Sinto humildade nas palavras e acredito que a humildade é um dos principais fatores para se atingir sucesso em grandes desafios.
Ótima entrevista apesar de curta, aliás uma das coisas que o Kiko sempre produz muito bem são as entrevistas! Que venham mais como esta! Parabéns a equipe do AZ pelo material! Abs!
Muito bom !!! Adorei ! Desejo a ela tambem muita sorte em todas as empreitadas que ainda estão por vir !!!
Muito boa essa entrevista! Um incentivo para todos que curtem esse belo esporte. Parabéns. Marco Aurélio, montanhista – Itatiaia-RJ
Adorei a entrevista. Que bacana ter consguido conversar com ela. Parabéns!
Linda e forte Gerlinde! Que vida mais bonita a sua…
Parabéns AdventureZone pela entrevista!
Frase que mais me chamou atenção na entrevista : ” Não aposte corrida com ninguém!”