Salve galera.
Esse post é simplesmente para divulgar que o croqui da via 15 Anos de Atraso, está errado, mas vale a pena o relato de como descobrimos esse erro e como foi essa escalada, que quase se tornou um acidente bem grave.
Ricardo limpando a Bela fenda da Terceira enfiada.
No domingo, 24 de novembro de 2009, acordamos bem cedo para aproveitar a parede na sombra. Dormimos em Secretário, na casa da Carol e isso foi um adianto.
Às 7 da manha, estávamos começando a escalar. A via era a15 Anos de Atraso, na Pedra do Capim Roxo em Secretário. Éramos duas cordadas, eu revezado a ponta com o Ricardo e o Fabinho vinha guiando a Carol na outra cordada.
A escalada ia muito bem. A primeira enfiada um pouco suja com a P1 em árvore, a segunda enfiada protegendo em móvel alternando escalada de face com fenda, a terceira uma LINDA fenda frontal de quinto grau toda protegida em móvel. O Ricardo junta a quarta com a quinta enfiada e eu saio para guiar a sexta e aí começa o problema.
Estávamos escalando com o croqui da via que copiamos do Guia de Petrópolis. Na sexta enfiada eu “bati” um pouco a cabeça para ler a via, mas após uns 20 metros de corda eu protegi em uma fendinha rasa com um Nut pequeno e mais 10m para achar uma chapa, escalei mais uns 20m e cheguei na P6 (a via já se mostrava exposta e com uma leitura exigente). Chegando na P6, puxo o Ricardo que rapidamente estava junto comigo na parada e então decidimos esperar um pouco, pois o Fabinho não tinha emendado a quarta e a quinta enfiada.
Até então o croqui não mostrava muitos erros, a não ser a falta de alguns grampos.
Assim que o Fabinho deu as caras, dei a idéia do Ricardo tocar a escalada, pois ele teria que procurar o grampo que não estávamos vendo devido ao sol na nossa cara. O croqui indicava a escalada para a esquerda e avistamos uma cristaleira -“só pode ser ali”, mas não era. Ricardo esticou 15 metros para chegar à cristaleira e a dúvida começava: será que é ou não é… E nada do grampo aparecer. Como ele já tinha passado por algumas aderências estranhas, não se sentiu encorajado de desescalar e uma vaca daquele ponto seria maior que 30 metros. Ele subia mais e mais em busca do grampo gastando tempo e energia. Quando menos esperávamos a corda acabara e uma queda poderia ser fatal. Já desgastado e desencorajado a desescalar pelas aderências de quinto grau com mais de 90 metros de exposição, preferiu subir mais um metro e ficar esperando numa canela pouco confortável, mas que dava para relaxar um pouco.
Tínhamos um problema.
Um cara a 60 metros podendo cair 120, a parada num grampo único e uma segunda cordada vindo.
Ricardo já com mais de 30m de corda e ainda procurando o grampo.
A solução foi: Sabendo que ele estava bem, decidimos chamar a Carol até a parada, esse foi o momento de maior risco, pois estávamos os 4 num mesmo grampo com uma potencial queda de120 metros. Troquei as funções com a Carol, agora eu era a dupla do Fabinho e ela dava “segurança” para o Ricardo.
O Fabinho sai guiando em direção a chapeleta que após o sol ter se escondido atrás das nuvens nos permitiu ver a proteção. Agora sim estávamos em cascas de ovos com dois guias num único grampo, mas no fundo sabíamos que isso não era tão problema. O Fabinho rápido chegou à chapeleta e agora já tínhamos uma segunda proteção, UFFFAAA. Mais dois grampos e, ele me chama, eu subo voando pela corda fixa, a escalada deixou de ser escalada faz tempo e virou um resgate.
Dei mais uma vez segurança ao Fabinho e ele passa da altura que o Ricardo estava, monta minha segurança e quando cheguei à altura dele fiz um Borboleta Alpina e deixei um cote de corda com alguns metros e um 8 na ponta. Fiz um pêndulo até chegar nele, joguei essa ponta de corda e Uffffaaa mais uma vez, Ricardo não iria mais cair os 120m.
Escalávamos simultaneamente em diagonal até o grampo que estava o Fabinho e montamos o rapel.
Com a situação já sob controle, demos início aos rapeis e ainda discutindo o porque do erro, se o croqui dizia que a via era para a esquerda e ela não tinha canaletas na enfiada e assim juntando todas as informações, percebemos que o croqui do guia repetiu a sexta enfiada duas vezes e só não desenhou os buracos.
O guia nos levou para esquerda, mas o grampo na verdade estava à direita, isso poderia ter sido um erro fatal. Uma carta náutica nunca admitiria um erro desses, um mapa topográfico nunca admitiria um erro desses, um croqui de escalada também não deveria admitir um erro desses!!
Várias outras pessoas cometeram erros induzidos pelo Guia de Petrópolis, outros croquis também estão errados faltando ou sobrando grampos, informações perdidas ou que confundem mais do que ajudam.
Portanto, eu Arthur Estevez não recomendo o uso do Guia de Escalada de Petrópolis (1ª Edição)
Um erro besta que poderia ter matado uma pessoa ou mais de uma, caso o sistema não aguentasse queda.
Ainda bem que a cordada era composta por pessoas experientes e que o Ricardo Linhares é um ser iluminado e calmo …. mas, muito calmo mesmo….
ATENÇÃO: Erro no croqui da via 15 Anos de Atraso, Pedra do Capim Roxo, Secretário.
Guia de Escalada de Petrópolis (1ª Edição), Pagina 292.
*A sexta enfiada se repete e falta alguns grampos.