Canadá, Nido e Cólera
Até que dormi bem, considerando o turbilhão de coisas passando pela minha cabeça. Acordei cedo, fechei a marinheira e levei-a lá para fora. Saí com o casaco de pena e coloquei o que ainda ia usar nos bolsos.
Ainda não conseguia acreditar que minha mãe ia ficar lá sozinha todo esse tempo esperando a gente! Mãe é simplesmente… mãe né? Não sei de onde sai tanto amor e tanta força! Sabendo que ela não se adapta muito bem à altitude, preferi não pensar em problemas que poderiam acontecer, sabia que ela estaria muito bem assistida por todos da Aymará enquanto eu e meu pai estivéssemos longe.
Tiramos fotos de todos antes de sair e pé na trilha! Mais uma vez subimos pelas pedrinhas rolantes daquela parte da montanha. Levamos mais ou menos quatro horas para chegar ao primeiro acampamento, uma hora a menos do que levamos da primeira vez. As barracas já estavam montadas e só precisamos abrir os isolantes e o sleeping lá dentro quando chegamos. O Parque exigia que cada montanhista se responsabilizasse por seus dejetos, não sendo permitido deixar nada na montanha. No entanto, todas as expedições da Aymará tinham as barracas banheiro (e dentro delas jornais e um saco preto que era levado para baixo pelos carregadores com tudo que “ficasse”), o que facilitou muuuuito a nossa vida. Apesar de eu ter tido meus problemas com essa barraca, era como um banheiro normal e com esse esquema tivemos uma preocupação a menos lá em cima.
Diferente da primeira visita a Plaza Canadá, dessa vez o tempo estava limpo e deu até para conversar um pouco lá fora. Eu e meu pai voltamos para a barraca e fomos experimentar a famosa comida liofilizada e caraca, que coisa ruim! O sol começou a se esconder e o frio chegou rapidinho. Li um pouco do livro que levei, sobre uma jornalista iraniana, juntei um pouco de coragem para escovar os dentes e fui dormir. Aliás, acabei de me dar conta, foi minha primeira noite à 5000m! O acampamento mais alto do Kili era à 4700m! Uhul, primeiro recorde de altitude da viagem! 😀
Assim que o céu clareou um pouco levantei e fui lá fora. Dava para ver o acampamento base lá em baixo e o sol iluminando as montanhas mais altas. Comi pouco no café da manhã, em parte porque já tinha começado a perder o apetite, mas também porque o pacotinho escrito breakfest de comida liofilizada é tristemente deplorável.
Enfim, saímos perto de 10h e começamos a caminhar em direção ao segundo acampamento, Nido de Condores, a 5400m. Pegamos muito vento durante toda a subida, e na primeira parada que fizemos eu já estava morrendo de frio e ofegando. Voltei a minha brincadeira imbecil de ficar contando os passos em línguas diferentes e até que isso ajudou a passar o tempo e esquecer que o vento estava quase me puxando montanha a baixo. Enquanto a gente descansava, passaram por nós um grupo pequeno de médicos, que iam passar as próximas semanas em Nido, de plantão. Pelo que fiquei sabendo, as equipes médicas em todo o parque se revezam em cada acampamento de tempos em tempos. Eles pararam um pouco para conversar com o Capy, o Berne e o Carlos e os ouvimos falando sobre a previsão do tempo para os próximos dias. Segundo a informação que eles tinham, a janela de bom tempo seria nos dias 21 e 22, o que nos faria passar dois ou três dias parados no acampamento 3!
Apesar de terem tido poucos dias de tempo fechado desde que entramos no Parque Provincial, é impossível prever a velocidade do vento nas partes mais altas da montanha e mesmo com dias lindos e ensolarados, o vento lá em cima pode estar a quase 100km/h. Sendo assim ficamos à mercê da boa vontade da montanha para decidir o dia de ataque ao cume. Grande parte dos montanhistas que não chega ao cume do Aconcágua, não chega por causa de problemas com vento e/ou neve; é uma montanha com variações climáticas extremamente complicadas.
Chegamos à Nido de Condores mais ou menos seis horas depois de sair de Canadá. Larguei tudo na barraca e saí para tirar umas fotos. A vista lá em cima é impressionante! Estamos na linha das nuvens e é simplesmente fantástico poder ver grandes montanhas da Cordilheira dos Andes dessa perspectiva. Localizei o Bonete, que dali parecia um montinho de terra e o Cume Brasil, que fica ao norte do acampamento base. Me arrependi profundamente de não ter levado outro sapato além das botas duplas lá para cima! Toda vez que tinha que sair da barraca, para qualquer coisa que fosse, eu gastava cinco minutos congelantes para conseguir colocar e amarrar a bota. Nota mental: SEMPRE levar meu Crocs para alta montanha!
O plano para o próximo dia estava bem incerto: se a noite fosse tranquila e estivesse um tempo bom de manhã, sairíamos para Cólera, nosso último acampamento, para de lá atacar o cume no dia 19, que algumas previsões diziam que teria bom tempo; caso contrário, passaríamos o dia onde estávamos e esse mesmo plano seria repetido para o dia seguinte. Sendo assim, comi minha janta com muita pouca vontade e fui dormir.
Acordei muitas vezes de noite com um vento fortíssimo balançando a barraca. Quando acordei o Capy falou que chegou a mais ou menos 80km/h! Coloquei a cabeça para fora da barraca e vi que nosso dia seria de descanso, o famoso cogumelo (um amontoado de nuvens em forma espiralada) estava pairando sobre a maior montanha das Américas, e apenas uns poucos grupos resolveram ir até Cólera.
Me preparei psicologicamente para o longo dia que estava por vir. O tempo não estava tão feio, mas o vento castigava qualquer coisa em posição vertical e né… à 5400m de altitude, a temperatura não te faz ficar com vontade de apreciar a paisagem. Passei a manhã em um eterno dorme e acorda dentro do meu sleeping bag e levantei só na hora de almoçar. A tarde fiquei entre ler e escrever, sem muita animação;Em uma hora teríamos o tão falado por do sol em Nido. Não estava tudo branquinho como nas fotos que eu vi, mas mesmo assim foi um espetáculo! Já estava bem frio lá fora, e só saí para tirar umas fotos. Meu pai estava em uma animação que só vendo, cantando marchinha de Carnaval e tudo! Tirei a filmadora do bolso para filmar e não consegui filmar nada, o frio congelou o sistema. Bom, sendo assim, fiquei dentro da barraca bem quentinha olhando o sol sumir no horizonte, em uma das cenas mais poéticas da minha vida.
Essa noite foi bem menos turbulenta que a última e acordei de manhã com mais esperança. Os meninos ligaram lá para baixo para saber da previsão e ouviram que o dia seguinte, dia 20/02, seria um dia razoavelmente bom para tentar cume. Sendo assim, tocamos arriba! Saímos de Nido às 11:30 e assim que chegamos na trilha emparelhamos com um grupo russo enorme na nossa frente. Normalmente caminhar devagar não me incomoda, mas neste dia em especial, eu acordei com muito frio e até essa hora ainda não tinha conseguido me esquentar, então queria aumentar o ritmo um pouco para ver meus pés paravam de formigar. Além disso, super estava pensando em chegar o mais rápido possível em Cólera para descansar. Mas, como fôlego lá em cima é para poucos, ficamos por um bom tempo andando atrás desse grupo. Quase uma hora depois, ultrapassamos eles pela direita e fiquei uma meia hora ofegando por causa do esforço.
Não sabia se ficava feliz ou triste cada vez que o Carlos anunciava que íamos parar. Minhas pernas e minhas costas pediam descanso, mas ao mesmo tempo não queria sentir frio de novo e ficar parada muito tempo não ia ser legal. Não consegui comer muito durante o trajeto todo e meio confusa com a falta de oxigênio nem me dei conta que tinha chego passado da altitude do Kilimanjaro! 5895m! Tínhamos parado em Berlim, outro acampamento na mesma altitude de Cólera, mas bem mais sujo. Comi três barrinhas de cereais e comecei a sentir uma pontada de dor nas costas, até agora não sei se era por causa de altitude ou por causa da mochila, mas me tirou completamente as forças. Nessa hora ouvi o Carlos gritando: “Parabéns! Chegamos à 6000m!”. Tirei energia do pâncreas e continuei andando. Até que não foi um dia longo, em 4 horas chegamos ao nosso objetivo, mas acho que a altitude começou a pesar.
Depois de deixar minha mochila na barraca, senti uma nova energia tomar conta de mim e esqueci todos os incômodos. Fui de um lado ao outro do acampamento para conhecer e depois parei para tirar fotos e falar com a minha mãe. Foi ótimo esse novo estímulo, me senti muito motivada para dar o máximo de mim no próximo dia.
Chegamos perto das 17h e logo já era hora de jantar e ir dormir, tentar descansar o máximo possível antes do grande dia. porque o cheiro também me fez mal e continuei na base de barras energéticas e balas.. Deixei minha mochila pronta, com o mínimo de coisas possíveis e coloquei o conjunto limpo de roupas. Dormi até que bem demais para a altitude em que estávamos e quando acordei na madrugada do dia seguinte, a vontade de sair da barraca era igual à temperatura: negativa.
O GRANDE DIA
Às três horas da manhã e o plano era sair às cinco. Pegamos mais água quente para encher as garrafas e tomar café. Comi pouquíssimo e tomei duas canecas de água quente. Coloquei a calça de fleece, as duas camadas médias de cima, a calça de Gore-Tex e meu casaco de penas. Mochila pronta, roupas colocadas, só faltava colocar a bota dupla e as mittens. Fiquei deitada até cinco minutos antes de sair e acabei me afobando muito para sair da barraca; coloquei os esquentadores de mãos dentro das luvas, enfiei o cartão que a Andrea me deu no Kilimanjaro no bolso e amarrei as botas. Saí lá fora com tanta roupa e tão agitada que não senti nada de frio, apesar dos 10º negativos que estava fazendo. Coloquei meus Googles para proteger os olhos do vento e saí catando cavaco atrás do pessoal. A saída de Cólera é razoavelmente inclinada, mas fomos devagar e deu para acompanhar bem o ritmo. Tinham uns cinco grupos saindo naquela hora, e enfrentamos um pouco de congestionamento (nada que atrapalhasse). Meia hora depois da saída, o Ivan teve algum problema e resolveu desistir. Não sei bem o que aconteceu, ele estava aparentemente muito bem e muito forte, mas, resolveu descer.
Comecei a sentir aquela pontada nas costas muito forte e por mais que ajustasse a mochila para todos os lados, não resolvia nada. Continuar daquele jeito seria bem complicado, e pedi ajuda para o Carlos. Ele perguntou se dava para seguir até Piedras Blancas, nosso primeiro ponto de parada e respondi que sim. Andei mais um pouco e tive que parar de novo. Passei a maioria das coisas para a mochila dele e continuei. Uma hora e pouco depois chegamos nesse primeiro ponto de descanso e o sol estava nascendo! Sempre ligo o sol nascendo à um recomeçar, e foi isso mesmo que aconteceu. O Carlos achou melhor eu deixar minha mochila lá mesmo, sem nada dentro e com algumas pedras em cima para pegar na volta. Eu estaria mais leve e com menos dor nas costas, minha autoconfiança aumentou muito!
100% do tempo eu ia pensando qual seria a hora que o meu bom senso me mandaria voltar. Eu ainda estava bem, sem dores de cabeça e sentindo um frio suportável, mas meu corpo estava cansado, muito cansado. Perto das 9h da manhã paramos para comer e hidratar no acampamento pouco usado à 6400m. Era o horário previsto para chegar ali e o próximo desafio seria uma encosta comprida de neve, que nos levaria até o Portezuelo del Viento, em que, como o próprio nome diz, venta muuuuuuito! Parada ali tentando abrir um pacotinho de alfajor com três luvas, eu me perguntava mais uma vez o que eu estava fazendo ali e qual seria o propósito de tudo aquilo. Com a porcaria da hipóxia fazendo muito efeito, não cheguei a uma conclusão clara, mas tinha certeza que estava buscando um dos meus grandes sonhos, e independente de qualquer outra coisa, estar ali bastava.
Coloquei os crampons com ajuda do Carlos e do Berne e saí contornando a cabinha abandonada de Independência rumo à encosta nevada. Que loucura né? Me senti de novo em um filme de aventura+ação. Este último acampamento é o ponto de desistência de muitas pessoas e fiquei feliz em ver que todo o nosso grupo vinha bem. Demorei meia hora para chegar em cima da encosta e começar a sentir o (nada) agradável ventinho da Travessia (Portezuelo Del Viento). Esse vento, sopra pelo Gran Acarreo, que estava bem abaixo de nós, e fez a temperatura parecer ainda mais baixa.
A Travessia foi dura. O vento parecia um chicote na pequena parte exposta do meu rosto e voltei a contar meus passos. Passei a coordenar melhor os passos com a respiração e assim voltei a acompanhar os meninos.
Duas longas horas depois de ter começado a caminhas pelo Portezuelo Del Viento, eu, o Carlos e o German chegamos nas Cuevas, à 6650m. Ah, que ótimo que foi sentar um pouco e esquecer o peso das botas duplas e dos crampons! Comi mais uma barrinha e bebi um pouco de água. Além de já ser difícil beber muita água em alta montanha, ainda tem o agravante que a água é de degelo e tem um gosto bem diferente, que depois de um tempo fica meio enjoativo. Sem mais reclamações, depois de conversar com um guia amigo do Carlos que tinha subido pelo Glaciar dos Polacos, começamos a subir a famosa Canaleta. Olhando para trás dava para ver uma grande fila subindo pela Travessia. Esperava que meu pai estivesse ali e estivesse bem! Lá embaixo dava para ver alguma coisa de Nido e uma infinidade de montanhas nos rodeando.
A Canaleta é um grande corredor inclinado de pedra, neve e gelo; um lugar em que acontecem muitos acidentes por simples falta de atenção. Até vínhamos brincando durante a viagem, que se alguém escorregasse na Canaleta chegava rapidinho de volta ao Campo Base. Começamos a subir por ela devagarzinho: dez passos e uma parada, dez passos e uma parada. Apesar de mais inclinada, achei essa passagem mais tranquila do que a chegada às Cuevas. Levamos aproximadamente uma hora e vinte minutos para chegar ao fim dela. A transição da Canaleta para o “Ombro” tinha muitas pedras e pelo menos eu achei, que não tinha um caminho muito bem marcado. O esforço de levantar a perna e se alçar para cima nas pedras maiores, me fazia respirar fundo por pelo menos um minuto depois. Do nosso lado esquerdo vinham dois escaladores subindo pela neve, com crampons e piolets, e vinham bem mais rápido do que nós. Impressionante ver do que o corpo humano é capaz quando bem condicionado!
No Ombro, estávamos à poucos metros verticais do cume, mas ainda tínhamos pelo menos uma hora para chegar de fato. Olhando para trásm de vez em quando dava para enxergar o Cume Sul do Aconcágua, e dei sorte de ter olhado em um momento que ele estava totalmente descoberto.
Minha respiração desregulou mais uma vez e cada vez mais eu me sentia tonta. Comecei em um mantra de quatro passos e uma parada, mas no meio do caminho tive que sentar. Senti que estava chegando perto do meu limite emocional (porque o físico já tinha ido embora há muito tempo, haha), mas perto não quer dizer que chegou, então foquei no meu grande objetivo, que afinal estava tão perto e finquei os crampons na neve com a certeza de que ia dar certo. Os níveis de adrenalina no meu corpo estavam bem altos e minha cabeça quase explodiu de alegria quando eu vi que chegamos nas últimas “pedrinhas” antes do cume.
15h1o’, dia 20 de Fevereiro de 2012, pisei pela primeira vez no topo da montanha mais alta das Américas, a maior montanha do mundo fora da Ásia, o colosso de pedra que vinha tomando conta dos meus pensamentos já havia algum tempo. Quantas vezes durante a expedição me peguei pensando nesse momento? Ah são tantas emoções, essa viagem realmente estava sendo incrível! Desde o começo vinha pensando sobre o cume, como seria quando eu chegasse e principalmente, SE eu ia chegar, e agora eu estava lá! Acima de nós, apenas algumas nuvens que passavam correndo, ao nosso redor a imensidão da Cordilheira dos Andes e dentro de cada um uma sensação única e inexplicável.
Tiramos muitas fotos, gravei um vídeo e logo meu pai chegou. Comemoramos juntos e tiramos mais fotos. Pedimos para ligarem para Plaza de Mulas, para a gente avisar minha mãe. A ligação estava horrível, mas vi que ela estava comemorando lá embaixo. De verdade, não consigo imaginar um incentivo maior para correr atrás do que eu quero, do que ter a mãe que eu tenho. Enquanto estávamos lá em cima, ela ficou no acampamento base sozinha esperando por nós. Todos os dias nós pensamos nela e pelo rádio ficávamos sabendo se estava tudo bem lá por baixo e contávamos as novidades. Saber que tem uma pessoa torcendo e mandando boas energias para você é tudo nesse tipo de viagem.
Ficamos no cume mais ou menos 50 minutos e o tempo começou a virar. Antes de o grupo russo chegar começamos a descer. A neve começou a cair e as nuvens pareciam pincéis pintando um quadro na nossa frente em uma velocidade impressionante. Pouco antes de chegar no começo da Canaleta, já não sei via mais o Cume Sul e realmente tínhamos chego lá em cima na hora certa.
Já estava me sentindo bem mais segura com os crampons e vinha descendo bem. O Capy ia na frente, segurando um pouco o ritmo depois de muitas paradas chegamos de volta nas Cuevas( os meninos todos tinham deixado as mochilas lá e carregado para cima apenas o necessário). Passamos um bom tempo sentados ali, por pedido do pessoal. Ainda estávamos em cima das nuvens e no caminho até Independência, o sol começou a se por. Foi outra cena memorável da expedição, o sol refletindo nas nuvens e nas neves e colorindo tudo com cores quentes.
Chegamos de volta à Cólera junto com o sol, às 20:15’. O tempo que passei acordada foi apenas para tirar as camadas mais externas de roupa, tirar a minha bota e a bota do meu pai, limpar meu rosto e entrar no sono mais profundo que eu podia ter à 6000m de altitude.
No dia seguinte voltamos em 6h até Plaza de Mulas, sem muitos acontecimentos durante o caminho e uma sensação ótima nos acompanhando. Minha mãe estava lá embaixo para nos recepcionar e o reencontro foi bem emocionante. Comemos muuuuito e fomos descansar. Pegamos a trilha de volta para a entrada do Parque no outro dia bem cedo. Apesar de uma grande dor de barriga no caminho, voltamos todos bem. Quando chegamos de volta a Confluência meus pés estavam destruídos. Com a bolha do começo do trekking, não consegui mais colocar a bota e tive que descer de tênis mesmo. O problema é que o tênis era três números maior que meu pé e isso teve doloridas consequências. Me distanciei bem do grupo e meus pais ficaram comigo. Chegamos na entrada do parque empoeirados, cansados, com dor, mas felizes.
Foi A cena da viagem chegar no hotel em Mendoza com aquelas marinheiras horrorosamente sujas e fedidas e sem tomar banho a no mínimo cinco dias. Tomar banho foi uma sensação indescritível. Tive que comprar uma esponja no outro dia para conseguir me limpar direito, mas com a água preta que saiu logo no primeiro banho já deu para perder peso, rs. Deitar em uma cama de verdade depois de tanto tempo, que delícia!
E é isso né? Ampliar nossos limites, ir atrás do que queremos, acreditar que querer é poder, e com tudo isso aprender a valorizar as pequenas e boas coisas da vida, que acabam esquecidas na correria do mundo que vivemos. Obrigada Aconcágua, obrigada Grade 6, obrigada Aymará, obrigada Carlos, Capy e Berne, obrigada companheiros de viagem, obrigada amigos, obrigada novos amigos, obrigada mãe e pai, minha segunda expedição de alta montanha foi melhor do que eu poderia imaginar! Cada dia passado foi um desafio vencido e uma lição aprendida.
Por Ayesha Zangaro