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BASE & CLIMB EUA 2009 (Twin Falls – Moab)

Perrine Bridge – Twin Falls, ID. Foto: Gustavo Britto

Twin Falls, Idaho – E.U.A. é a cidade da única ponte onde o BASE jump é legalizado o ano inteiro, 24 horas por dia, nos Estados Unidos. Mais do que isso, é a cidade onde o praticante do esporte é realmente bem vindo. A Perrine Bridge está a 148 metros acima do Snake River, ligando os 457 metros entre as paredes do canyon. Ao chegar à cidade, a primeira coisa que se vê é a ponte, sendo necessário cruzá-la para entrar na cidade. Logo na primeira esquina, fica um grande estacionamento para os visitantes que vai até a borda do canyon. De lá é possível ver o Visitor Center que oferece uma série de serviços ao visitante (Informações, Café e Internet Wi-fi grátis, lembraças e etc.), sob o comando de delicadas senhoras voluntárias, moradoras da cidade.

Quando um novo BASE jumper entra no Visitor Center ele é recebido com uma verdadeira festa e logo fica sabendo como tem andado os saltos nos últimos dias (condições de vento e clima), além de receber todas as instruções da “etiqueta” local. No meu caso, tive direito a colocar o primeiro pin para o Rio de Janeiro no mapa mundi de BASE jumpers visitantes. Foi uma experiência inusitada, dado que os BASE jumpers nem sempre são “bem vindos” nos objetos de onde saltam. No entanto, a experiência mais inusitadade de todas foi usar o telefone do centro de visitantes para ligar para a polícia. Como a Perrine Bridge é parte de uma rodovia inter-estadual, muitos motoristas (desavisados) ligam para a polícia local relatando que acabaram de ver alguém se jogando da ponte. Sendo assim, é de costume que o primeiro grupo a chegar na ponte ligue para a polícia e notifique que as atividades do dia irão começar. Além disso, essa é uma maneira de manter a boa convivência com os serviços públicos e a comunidade local.

Um pequeno passo para um homem… Foto: Elton Vedder

Durante a “alta temporada” de BASE jump é possível ver centenas de praticantes dobrando seus velames nos gramados que beiram a ponte e o centro de visitantes. Nessas horas é muito legal ver a integração de um esporte diferente (para muitas pessoas) com a comunidade local e com os outros visitantes da ponte, que costumam conversar, tirar fotos e dúvidas com os BASE jumpers. Outro grande atrativo do local é o restaurante Outback que fica a 200 metros da ponte, do lado oposto do estacionamento. Ao final do dia, todos os “jumpers” se reunem ao redor do bar principal do restaurante para tomar cervejas a 1 penny (cortesia para os praticantes do esporte, que lotam o restaurante) e ver os vídeos dos saltos do dia no telão.

Não bastasse tudo isso, a cidade ainda oferece descontos nos hotéis e restaurantes para os praticantes do esporte. Alguns hotéis chegam a permitir que os BASE jumpers dobrem seus velames em seus salões, mesmo que ele não seja hóspede do hotel. Por esses motivos e por causa das execeletes condições naturais para iniciantes, os principais cursos de BASE jump dos Estados Unidos são na Perrine. Um deles é o curso da Apex, fábrica de equipamentos de BASE que é coordenado pela brasileira Marta Empinotti.

Velame no final do processo de abertura. Foto: Elton Vedder

Estar em Twin Falls também foi interessante por esta ponte ter sido “palco” para evolução do esporte e para os primeiros filmes de BASE Jump, conhecidos mundialmente, entre eles, o Continuum I e o Continuum II, tales from the edge.

A cidade também é muito visitada por praticantes de outros esportes, como mountain bike, kayak, caminhada, escalada e golf. Além disso, também é possivel fazer turismo “convencional”. Entre estas opções, estão a visitação do circuito de vinhos e de museus sobre os primeiros assentamentos do “velho oeste”.

Na Perrine, os saltos ocorrem dos dois lados da ponte, sendo que há boas condições de pouso em apenas um deles. Na área de pouso há um indicador permanente de vento, uma bandeira dos Estados Unidos! Como a ponte é construida em arco, ela oferece poucos riscos de colisão para o “jumper”, no caso de um off-heading (abertura fora de eixo). Por isso, a Perrine é também o destino de muitos BASE jumpers experientes, que aproveitam esses fatores para experimetar e desenvolver novas “manobras”. Outro fator que contribui para essa escolha é a possiblidade de pousar na água, no caso de uma abertura muito baixa ou alguma pane(!).

Cume da Owl Rock, Arches National Park – UT. Foto: Flávia dos Anjos

Não bastasse o excelente salto que esta ponte proporciona, quando pousamos no fundo do vale, temos que retornar às bordas superiores. Isso significa, pelo menos para mim, que também sou escalador, que a diversão ainda não acabou! Alguns BASE jumpers optam por pegar um barco pelo rio, até uma van que os leva de volta ao estacionamento do centro de visitantes, outros optam por caminhar até a van. Mas, para mim, a melhor opcção é fazer a trilha que fica logo abaixo da ponte. Além de ser o caminho mais curto e rápido, esse é o caminho que passa por um longo “trepa pedra” e que tem direito a um “solinho” de 5 metros em fenda e agarrões, bem fácil, mas muito legal!

Nesta viagem tive a oportunidade de saltar com BASE jumpers de vários países. No entanto, foram dois americanos, que podem ser considerados locais da ponte, que me ensinaram as “manobras” mais legais da viagem.

Tive a oportunidade de conversar com Jimmy Pouchert e aprender com ele a fazer o tard, um dos vários tipos de saltos unpacked. Os saltos unpacked (sem dobrar) são aqueles onde o velame é dobrado parcialmente e fica fora do container (parte do paraquedas que parece uma “mochila”). No tard, você segura o velame e as linhas em uma das mãos enquanto salta. Quando o corpo passa pelo velame, você larga tudo! Acho que fica mais fácil de entender vendo o vídeo (rsrsrrrrsrssrrs).

No dia seguinte, com a ponte menos cheia, Jesse Hall, que já obeservava os meus saltos, sugeriu que eu tentasse fazer um floater. Nesse salto, você salta olhando para o objeto e abre o seu paraquedas, ainda olhando para ele. Esse é o tipo de coisa que só se aprende em uma ponte como esta, pois sua estruta em arco permite que você não colida no objeto, caso tenha uma reação lenta durante a abertura.

Bom, depois de aprender todos esses “truques”, acumular mais alguns saltos noturnos e ter conhecido muita gente legal, era hora de seguir viagem; partir para saltos mais técnicos e escaladas mais fortes. Meu próximo destino seria a cidade de Moab, onde os saltos lá são predominantemente em montanhas (ou penhascos, como se diz no BASE). Nessas saltos é necessário redobrar a atenção, pois, como a montanha é um objeto grande e maciço, o vento tem uma dinâmica bem diferente, fazendo às vezes, rotores nas montanhas próximas, o que pode inflenciar a direção que o seu paraquedas abre. Diferentemente da ponte, no caso de um off heading de 180 graus (abertura fora de eixo, em relação ao horizonte), você não tem um vão livre, sendo necessário uma reação rápida para não colidir com a montanha. Outro fator para se estar atento é o pouso, que muitas vezes é mais restrito. Em alguns casos (em Moab na maioria), o pouso é em rodovias, sendo necessário observar os veículos no horizonte e aguardar uma brecha. Por esses motivos, os saltos geralmente ocorrem no início da manhã ou no final do dia, horário em que as rodovias estão vazias e os ventos mais calmos.

Moab

A cidade de Moab fica literalmente no meio do deserto, próxima de 3 grandes Parques Nacionais americanos, sendo o princinpal deles o Arches National Park. Essa característica desértica da região, influencia diretamente os saltos e principalmente as escaladas locais, sendo necessário ficar muito mais atento aos detalhes de logística envolvidos, como: caminhada de aproximação; água; localização das bases das vias; sol e calor. Em Moab também predominam as vias no estilo tradicional, com proteção em peças móveis, só que muito mais curtas quando comparadas com as vias de Yosemite.

A Cidade

A cidade de Moab é a menor de todas as cidades visitadas durante a viagem, que parece apenas existir para atender à demanda de turismo da região. A cidade se resume a uma avenida principal cercada por uma pequena área residencial. Nessa avenida principal você pode encontrar tudo que um turísta precisa; centenas de hotéis e móteis (versão americana de um hotel, mais barato), áreas de camping, restaurantes, bares e milhares de agências de turismo. Como em toda cidade turística, em Moab é necessário tomar cuidado, pois, os preços de estadia e alimentação são bem elevados, além de serem cartelizados. No entanto, procurando com calma ou optando por acampar e cozinhar é possível tornar a estadia na cidade mais econômica.

Logo na entrada da cidade, você verá a primeira área de camping, o slickRock Campground que pertence a um dos Base jumpers mais atuantes da região. Além de saltar, o Matt, também escala e faz trilhas de moto, o que torna este camping um pequeno centro de referência para informações na cidade e ponto de encontro dos praticantes desses esportes. Além disso, o Matt dá descontos para Base jumpers e fornece áreas de dobragem, com ar condicionado!!!

As Escaladas

Escalar em Moab foi uma experiência muito diferente, além de toda a logística necessária para enfrentar as condições do local, você também tem que lidar com a textura e as dificuldades técnicas da parede. Lá as faces são ainda mais lisas que as de Yosemite. Apesar de sua aparência sólida e imponente, com as mãos é possível sentir o quão arenosa a rocha realmente é. Nessas condições é difícil acreditar que é possível escalar os 5.9’s técnicos e que as proteções ficarão em seus lugares. No entanto, quando pressionada com força, a rocha se torna tão sólida quanto o granito.

Quando cheguei à cidade, tentei aplicar as lições aprendidas no Vale, principalmente as que se referem à ambientação. Eu até tentei procurar as vias mais fáceis para me ambientar, no entanto, as escaladas em Moab são muito técnicas. No guia que eu estava usando havia poucos 5.7’s e apenas 4 vias de 5.8, em toda região. Um das vias que escalei foi a via normal da Owl Rock um 5.8 que fica bem no meio do Arches National Park, uma escalada bem curta e fácil, bem distante da cidade de Moab, mas que é uma experiência legal por estar dentro do parque, perto de outras atividades interessantes e com uma vista fantástica. Além disso, a via é uma oportunidade de escalar um das famosas agulhas do deserto.

Na base das vias do Wall Street, Moab – UT. Foto: Flávia dos Anjos

Outra via muito boa é a Flakes of wrath 5.9+, que fica no setor conhecido como Wall Street ou Potash Road. Essa é uma das drive thru routes de Moab (vias que ficam na beira da estrada, onde é possível estacionar na base e dar segurança de dentro do carro). Essa via, apesar de curta, é bem completa, começando com uns entalamentos de mão e pé, passando para uma seção de entalamento de dedos e movimentos bem atléticos (característicos em vias esportivas), terminando após uma curta travessia de um teto.

A via mais difícil que eu tentei na região foi a Kor & Ingall’s um 5.9+ constante de 4 enfiadas em uma agulha de difícil acesso, chamada Castleton Tower. A dificuldade da via não é somente dada pelo seu grau técnico, mas também por seu acesso, o tempo de localizar a sua base, sua exposição ao sol e sua decida, feita em fitas abandonadas em pontos de ancoragem muitos específicos (para não ter que abandonar peças móveis). Essa via é um perfeito exemplo do que significa escalada tradicional. Além das execelentes escaladas, a Castleton Tower também é o “palco” para um dos saltos mais longos e bonitos da região. De lá, é possível fazer cerca de 3-4 segundos de queda e pilotar o velame por cerca de 10 minutos, pousando ao lado do carro e economizando uma caminhada de 2 horas no calor do deserto. Porém, como a única maneira de chegar ao cume da Castleton é escalando, isso significa que para realizar o salto, o seu parceiro tem que fazer uma série de rapéis “tensos” (pois em fendas, a corda pode ficar presa com muita facilidade) e caminhar no sol com todo o equipamento por 2 horas sozinho! Ou seja, o salto só é realmente viável com a ajuda de uma pequena equipe.

Base Jump

A cominudade local de Base jumpers é composta por alguns dos melhores atletas do mundo, entre eles Jimmy Pouchert, Marta Empinotti (donos e instrutores da fábrica ApexBase) e Steph Davis. A união de uma comunidade atuante, com a legalização do esporte e uma geografia incrível, tornou Moab um dos principais “picos” de Base jump do mundo. Na cidade e nas suas proximidades, existem centenas de saltos estabelecidos e catalogados. Às vezes em uma mesma montanha, você pode encontrar mais de 10 exit points, que tornam o salto do mesmo objeto em saltos completamente diferentes.

Em Moab fui muito bem recebido pela comunidade local, que fez questão de me mostrar os melhores saltos, me levando pessoalmente aos exit points, onde tive a oportunidade de saltar no Tombstone, uma montanha que foi o cenário de conquistas importantes, tanto na escalada, quanto no Base. Esse salto, representou uma conquista muito importante para mim também. Ele foi o meu segundo salto de montanha (até então havia saltado apenas do Corcovado) e foi o primeiro salto que pude “sair correndo” do topo de um objeto fixo (prática muito comum nessa região, dadas as suas caracteríscas geográficas que formam as chamadas mesas).

O meu salto preferido foi de uma montanha chamada G-Spot. Esse é um salto de 2-3 segundos de queda (200 metros), com uma navegação longa que vai beirando a parede, fazendo um leve “proximity flying” com o velame. Outro lugar inacreditável é o Mineral Bottom, um canyon enorme formado pelo Colorado River (o mesmo que “cortou” o Grand Canyon). O Mineral Bottom é parecido com o G-Spot, no entanto, o salto é mais alto e a navegação é mais longa, passando por entre as agulhas do fundo do vale. Infelizmente não consegui fazer o salto, pois quando chegamos ao exit point o vento estava muito forte e estava se formando uma pequena tempestade no deserto que vinha em nossa direção. Esperamos o máximo que pudemos, mas tivemos que nos abrigar e apenas assistir o espetáculo da natureza. Nesse dia, não fique triste ou chateado, a essa “altura” da viagem eu já estava com a “barriga cheia”. Já havia escalado muito, saltado muito, conhecido muita gente legal, mas acima de tudo, já havia aprendido muito! Agora era hora de dirigir de Utah até a California e me preparar para voltar ao Brasil.

Informações Extras:

Posts Anteriores da BASE & Climb EUA 2009:
http://www.adventurezone.com.br/post.php?id=303

http://www.adventurezone.com.br/post.php?id=280

Tem dúvidas sobre o BASE Jump?
http://www.adventurezone.com.br/post.php?id=268

Site oficial do turismo no estado de Idaho:
http://www.visitidaho.org/

Página de Youtube oficial da camara de comercio de Twin Falls (Dicas de outros passeios):
http://www.youtube.com/user/TwinFallsChamber

Link para o episódio do TravelCast sobre BASE jump e escalada:
http://www.youtube.com/watch?v=2NVo-Tvb1xY

Curso de BASE jump em Twin Falls (Equipamentos, informações fotos)
http://www.apexbase.com/

Curso de BASE Jump no Brasil (Curso que eu fiz)
http://www.seeya.com.br/

Camping em Moab
http://www.slickrockcampground.com/

Sites oficiais dos parques nacionais próximos a Moab
http://www.nps.gov/ARCH/index.htm

http://www.nps.gov/cany/index.htm

Por Gustavo Britto

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7 Comentários em "BASE & CLIMB EUA 2009 (Twin Falls – Moab)"

  1. Brito disse:

    Excelente materia e muito esclarecedora, sobretudo para quem estiver planejando uma viagem para os locais descritos.
    Alto padrao e admiro a iniciativa de descrever, sem pagar misterio ou ocultar informacoes importantes.
    Quem dera se mais pessoas tivessem a iniciativa de fazer o mesmo com outros picos ou de ratificar o que o Gustavo disse…

  2. Gustavo Britto disse:

    Obrigado Brito!

    Um abraço,

  3. Thiago A Diz disse:

    Mais uma excelente materia !! sem duvidas inspiradora pra quem admira o esporte.

  4. Gustavo Britto disse:

    Valeu Thiagão 😀

    Abs,

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