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Uma Trip Diferente no Rio Mogi – parte I

Visuais fantásticos! Flora exuberante! Lindas cachoeiras e arquitetura inglesa! Paranapiacaba é tudo isso e muito mais!

Alvaro Neto, Igor Balestra e Leonardo Ghiro com o Vale do Rio Mogi ao fundo

 

Localizada no quintal de São Paulo, essa linda e cenográfica cidade detém belezas naturais indescritíveis. As opções de trips são inúmeras, as mesmas vão de simples “bate e volta”, com direito a contemplação de belas e incríveis cachoeiras e vales verdejantes, até incursões de vários dias, aí fica a gosto do freguês, ou melhor dizendo, do andarilho.

O sonho de percorrer tal localidade, desbravado há tempos pelos portugueses, ficava a cada dia mais vivo em minha mente. Porém, para realizar esse sonho, eu esbarrava em algumas dificuldades: eu não sabia por onde começar; não tinha a mínima idéia de qual equipamento levar; não sabia qual roteiro seguir; não tinha companhia e não sabia se um cego conseguiria realizar tal empreitada. Não. Você não leu errado não. Eu sou cego mesmo! Daqueles que usam óculos escuros e bengala branquinha também!

Igor Balestra e seus companheiros chegando ao primeiro ponto de descanso da trilha

 

Você deve estar se perguntando: “O que esse xarope vai fazer no meio do mato?” “Por que ele não vai tocar violão?” Por que ele não lê livros em hebraico?” (o certo é braille, mas até hoje tem gente que erra o nome). “Será que o cão guia dele é quem vai levar a mochila?” (eu não tenho cão guia, e mesmo se tivesse, não faria um ato tão cretino como esse).

Para essas e outras perguntas, eu respondo: Porque sou um cego brasileiro e não desisto nunca!

A tão apreciada Internet tem todas as informações, dicas, sites, blogs e fóruns sobre o assunto. Mas meu acesso a essa ferramenta maravilhosa é muito restrito, pois nós cegos precisamos de certos recursos para fazermos um uso eficiente e eficaz de tal comodidade. Entretanto, com a ajuda de meu amigo William, consegui várias informações em sites e blogs especializados de trekkers e montanhistas. E com a ajuda do pessoal lá do fórum “mochileiros.com” obtive inúmeros e valiosos detalhes sobre a trilha escolhida.

Igor Balestra perante o Vale do Rio Mogi com a ponte do Sistema Funicular ao fundo

 

A trilha em questão é a do Rio Mogi, a qual é considerada a maior e mais antiga de Paranapiacaba. Ela tem cerca de doze quilômetros de extensão, terminando no município de Cubatão.

Até aí tudo bem. Porém, antes de me aventurar em tal empreitada, seria preciso dar conta de alguns detalhes, ainda faltavam algumas coisas. Em primeiro lugar, seria preciso escolher uma mochila apropriada para esse fim. Pesquisei no tópico de “como escolher a mochila ideal” a fim de identificar o equipamento mais adequado às minhas necessidades. Não posso negar que ajudou muito, mas não tirou totalmente as minhas dúvidas….

Então, para sanar de uma vez por todas com tal problema, eu mandei um e-mail bem acanhado para o editor “Ogun777”, onde o mesmo foi super gentil no sentido de resolver todos os meus receios.

Igor Balestra, Alvaro Neto e Rodrigo Petry chegando no primeiro ponto de descanso

 

Depois de ler e reler todos os e-mails dele, e também as mensagens deixadas lá no fórum no tópico sobre “qual mochila comprar”, a resposta era quase um mantra hipnótico: Deuter!!!! Sim, era esse o mantra ecoado em todos os sites e blogs de trekking. Então, fui atrás dessa fantástica mochila no intuito de conhecer as vantagens decantadas pelos usuários. Confesso a vocês que eu não tinha a noção de que os equipamentos para esse esporte tão aprazível custassem tanto. É como diz meu amigo Lex: “Aqui no Brasil, se você não joga bola, se prepare para desembolsar fortunas com equipamentos”.

A cada informação coletada e a cada valor de equipamento consultado, eu ficava feliz e triste ao mesmo tempo. A felicidade era saber que Paranapiacaba era aqui pertinho, e a tristeza era saber que eu não teria condições de comprar os equipamentos necessários.

Fuçando na net com o meu mano William, achamos o site da Deuter, onde li toda a história de sucesso da marca e percebi que a cada linha lida, a vontade de ter uma mochila daquelas crescia exponencialmente em minha mente, pois as mochilas da Deuter são as melhores que existem, o sonho de consumo de todos os mochileiros e trekkers.

Certo dia eu orei a Deus e disse que se fosse de Sua vontade que eu praticasse esse esporte maravilhoso, que Ele me abençoasse…então aconteceu!

Eu acordei e senti que deveria entrar em contato com a Deuter. Confesso a vocês, meus caros amigos, que quando consegui o e-mail do sac da empresa fiquei radiante de alegria. Mas quando eu fui passar o tal e-mail explicando minhas intenções, solicitando uma ajuda da Deuter com os equipamentos necessários, eu fiquei bastante ansioso. Então pensei: “Já enviei o e-mail, agora era só me resta aguardar”. Então aguardei…aguardei….aguardei….(tá bom, tá bom, eu paro, acho que vocês já entenderam). Foi quando aconteceu, o senhor Marcus Araujo da Proativa respondeu ao meu e-mail. Na resposta ele dizia que fechava a parceria. Vocês não têm noção de como eu fiquei feliz! Eu não sabia se ria ou se chorava. Finalmente eu iria ter a melhor mochila do mundo, mas não era só isso…

O Marcus Araujo, além de ser uma pessoa fantástica e atenciosa, acabou por mostrar-se um excelente observador também. Além de ter me presenteado com uma mochila Deuter ACT Light 40 +10 (ela é linda!, cinza e vermelha), também me ofertou um par de meias Lorpen (falo sobre elas depois), uma headlamp Princeton Tec (fantástica, falo sobre ela depois também) e para fechar com chave de ouro, me ofereceu o repositor energético Suum (ele é ótimo, não deixa cansar nem a pau) e as sobremesas Liofoods (rápidas e fáceis de preparar).

Ufa! Se conseguir uma mochila já poderia ser considerada uma benção, imaginem só, ser presenteado com várias outras coisas também! Lá em cima eu disse que o Marcus era um bom observador, certo? Explico o porquê: ele me disse que a lanterna seria boa para ajudar na minha localização na trilha. Vocês acreditam que eu não tinha pensado nisso? Bem, continuando o relato, depois de terminada a ansiedade pela espera da mochila (ansiedade essa que me fez perder cerca de 3 quilos), iniciei meus treinamentos. Eu andava algo em torno de oito quilômetros por dia com a mochila cheia. Mas, cheia do que? Respondo: de roupas, água, comida, e mais alguns equipamentos que eu levaria para a trilha.

Ponte do Segundo Sistema Funicular através do Vale do Rio Mogi

 

Listo aqui uma série de acessórios indispensáveis para uma boa trilha, e que levei em minha experiência: canivete com funções múltiplas; roupas (para as mais diversas situações); comida apropriada; água (cerca de dois litros); lanterna (sem esquecer das pilhas); espiriteira (essa eu também fiz, cego metido a artesão, né?); três pares de meias (contando com as da Lorpen). Bem, acho que é só isso.

Agora chegou a parte mais importante: quem vai acompanhar esse mala, digo, quem vai com o Igor? Digo a vocês que várias pessoas se propuseram a me acompanhar, mas na hora do vamos ver sabe como é, né?

“Putz! Esqueci que era aniversário da minha mãe”.

“Pô, cara, logo no dia do jogo do Parmera?”.

“Acho que vai chover nessa semana”.

“Você é louco?”

“Se você se machucar, sou eu quem será responsabilizado.” Até isso eu ouvi, acreditam?

Bem, mas como eu sou um cara chato e persistente, consegui arrumar uma excelente companhia….

Entrando em vários blogs, eu tive contato com um cara chamado Rodrigo Petri, ou simplesmente, Petri. Esse cara se mostrou mais louco do que eu. Ele topou na hora e ainda disse que mais dois xaropes, quero dizer, mais dois amigos dele, iriam com a gente! São eles: Leonardo (Léo) e o mister Álvaro. Ambos com várias trips pelo Brasil e pela Europa!

Bem, o dia foi marcado. Era o último final de semana de Abril, parecia que o mês não passava de jeito nenhum. Enquanto isso, eu treinava e aguardava…treinava e aguardava…treinava e aguardava….(não necessariamente nesta ordem), mas eu aguardava e treinava. Devido a problemas com desistências de algumas outras pessoas que nos acompanhariam, novamente a data foi alterada para o dia dois de Maio. A minha intenção era ir no sábado e pernoitar lá, mas devido a falta de barraca de alguns integrantes da trip, essa idéia foi logo abortada.

Enfim era chegado o dia! O grande dia! O encontro estava marcado para a estação Brás do metrô, às seis e meia da manhã, horário esse que eu já achei um pouco tarde, tendo em vista que de lá até Paranapiacaba são quase cinqüenta minutos de trem, fora o ônibus. A minha ansiedade era tamanha que dormi apenas quatro horas de sábado para domingo. Enquanto eu arrumava as minhas coisas logo pela manhã, eu pensava: “Caramba todo mundo vai descansado e só eu vou pregadão”. Claro que me enganei completamente. Algum tempo depois, quando eu já estava com a trupe, fiquei sabendo que o Petri tinha ido para a balada e que havia dormido apenas três horas; o Léo tinha ficado com sua namorada e depois de levá-la para casa, às duas e quarenta da madrugada, dormiu só uma hora e meia e foi para a estação do metrô; por fim, o Álvaro, esse é um caso sério, também dormiu cerca de três horas. Ou seja, todo mundo “super preparado”!

Continua em breve…

Por Igor Balestra

Arquivado em: Trekking, Viagem

6 Comentários em "Uma Trip Diferente no Rio Mogi – parte I"

  1. Carol Emboava disse:

    Igor, parabéns pela determinação… o Lex já tinha me contado sua história… o cara é brasileiro e não desiste nunca meeeesmo, hehehe!

    E parabéns também ao Marcus Araújo, dá Proativa, por torna acessível seu sonho de trilheiro e perrengueiro, rs!
    Seja bem vindo… e não pare mais!

    Aguardo a continuação da trip!

  2. Kiko Araujo disse:

    Parabéns Igor!!! força de vontade é isso aí…
    abs

  3. André Padrenosso disse:

    Isso é um exemplo de que deficiência não é sinônimo de impossível !!
    Parabéns Igor.

  4. Liofoods disse:

    Igor, Parabéns pela determinação e fazer de limitações apenas mais um desafio, como todos têm a cada dia!A Liofoods tem o prazer, através da Proativa, poder tornar as trips mais saudáveis e saborosas!Abraços Liofoods

  5. eliane de souza siqueira disse:

    parabens, espero que você fassa muitos passeiios fotos lindas, parabens.

  6. Fernanda Guebarra disse:

    Igor que saudades de vc, como fasso para entrar em contato com vc???
    Bjosss

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