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O Monte Roraima é o Mundo – Parte 1

O escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967) em um dos mais importantes romances da literatura brasileira, “Grande Sertão Veredas”, diz que o sertão é do tamanho do mundo.

Retornando ao Monte Roraima no inicio do ano, uso dessa frase emblemática, para relatar a minha experiência nas terras de Makunaima:

o Monte Roraima é o mundo!

O mundo não só pela sua grandiosidade  – o Monte tem área de 34km² – mas por um sentimento que não vivenciei em nenhuma outra montanha que é o de estar em um organismo vivo, um organismo que se e nos transforma todo o tempo, um organismo que como também dizia Guimarães Rosa sobre o sertão, está dentro da gente, mas que não se revela a primeira vista, se esconde e acena e para ser compreendido, convida a contemplação e ao silêncio.


A vida das águas, águas que ditaram o ritmo dessa viagem.  Ao contrário da viagem que fiz em 2010 ao Monte, onde o clima foi seco em boa parte dos dias , nessa as águas que brotavam da densa e rica floresta que envolve grande parte do Tepui e que são trazidas pelo vento do oceano distante algumas centenas de quilômetros dali, foram generosas.  A Mãe das Águas, como é também conhecido o Monte pelos indígenas, nos recebeu chorando; choro que não cessou por longos e reflexivos dois dias inteiros, choro, que a Grande Mãe nos ofereceu, não por estar triste com a nossa presença, mas por que queria nos mostrar algo, queria nos apresentar a sua morada, seus mistérios, seus encantos, sua vida.

Dias de chuva que trouxeram sentimentos de frustração e esperança, dias de chuva que uniram ainda mais o grupo nas conversas sobre o lugar, dias de chuva onde aparentemente nada acontece, mas que trazem um grande milagre que podemos não ver se estivermos perdidos com pensamentos diversos ao ambiente.

Uma das lições ensinadas nesses dias de chuva foi a da paciência, e a da percepção sobre como esse organismo vivo que é o Monte Roraima se transforma dia após dia.  Onde a água e o vento abraçam as rochas as moldando com formas sobrenaturais que povoam nosso imaginário e onde as lendas indígenas deixam o lado da fantasia e se tornam realidade.  O Monte nos mostra como vive, seus deuses se revelam, suas lições invadem nossas mentes como um mantra que é ditado por Makunaima.

Makunaíma (Macunaíma com c, é o personagem do livro criado por Mário de Andrade, Makunaíma com “k” é um mito indígena), assim como a Mãe das Águas, está em todo o lugar.

Makunaíma que nos foi apresentado por um dos filhos do Tepui, o guia venezuelano Leo Tarola, que nas rodas de conversa no acampamento e durante as caminhadas se mostrava como um xamã – eu silenciosamente o chamava de grande alma e coração – um mensageiro que aprende e compartilha o conhecimento.

O guia Leo Tarola

 

Leo nos contava sobre Makunaíma, contava como um velho índio que transmite oralmente as tradições dos seus ancestrais para os mais jovens, como a Pandon – termo traduzido pelos Taurepang como “histórias” – que versa sobre a sua origem que ora é referida como a de um só personagem, ora como um grupo de irmãos.

Continua…

Flavio Varricchio

Arquivado em: Montanhismo, Trekking, Viagem Tags: Flávio Varricchio, Leo Tarola, Monte Roraima, Tepui, Venezuela

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