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O Monte Roraima é o Mundo – Parte 2

Lenda de Makunaíma

Vale das Catedrais

No “tempo de origem” (os Taurepang chamam de Pia daktai) homens e animais possuíam a forma humana, pemon-pe.  Os irmãos Makunaíma – nascidos da união do sol, Wei, com uma mulher feita de barro – perambulavam à procura do pai, que havia sido raptado pelos Mawari, espíritos maus que habitam o interior das serras. Na região do Monte Roraima encontram novamente o pai cativo, que, uma vez livre de seus raptores, sobe ao céu, abandonando seus filhos na terra.

Os irmãos Makunaíma permanecem na região do Monte Roraima a vagar, seguindo alguns animais – entre os quais a cotia, akuri – a procura de comida. São esses animais que indicam ao herói a “árvore do mundo”, o wadaka, de onde retiravam todos os frutos comestíveis. Extasiado com a abundância dessa árvore, Makunaíma, em um ato de avidez desmedida, a derruba. Do que restou do tronco jorrou muita água, o que veio a provocar uma grande inundação; ao dilúvio, sucede-se um grande incêndio, que destrói os homens e os animais. Após este cataclisma, Makunaíma faz novos homens e novos animais com barro, dando-lhes vida. O monte Roraima, contam os Taurepang, seria a raiz desta árvore que permaneceu após a grande inundação, apontando para sua forma, apesar das grandes proporções, semelhante a um tronco partido.

Este é o episódio mais comumente apontado entre as façanhas de Makunaíma. Em diversas outras, o herói transforma os vários seres com que se depara em rochas.

Ao final, Makunaíma parte em direção a leste, para o outro lado do monte Roraima, deixando para trás um mundo onde permanecem cristalizadas, principalmente nas formações rochosas do território taurepang, diversos de seus feitos.

Depois disso Makunaíma não mais intervém entre os homens, deixando-lhes, porém, uma triste herança: o mundo a que ficam relegados já não possui a mesma natureza daquele em que se vivia antes do corte da grande árvore; os seres de “agora”, sereware, perderam a identidade que outrora possuíam, já não são todos Pemon.

floresta, com destaque para as árvores de tacamajaca (Protium sp), cuja resina além do aroma agradável, é tradicionalmente usada para tochas (pela fácil combustão) e para reparo das canoas (curiaras) e ao fundo o monte kukenan ou matawi.

Como não se deixar levar por essas histórias, como não se sentir fazendo parte de algo mágico, misterioso e sublime como os feitos de Makunaima, como observar as inúmeras formações rochosas do cume e não perceber nelas as formas dos seres petrificados.

Formação rochosa do cume

É impossível não se deixar seduzir pelos mistérios do Roraima, a sensação é de estar sendo observado, de ter os passos vigiados pelos seus guardiões, que como um professor disciplinador, não perdoa erros, mas os provocam como forma de aprendizado e respeito.

Formação rochosa do cume

Uma experiência enriquecedora

Eduardo descansando antes da travessia do Rio Kukenan, Monte Roraima ao fundo.

Viagens devem resultar sempre na vivência de experiências e experiências valiosas só podem ser alcançadas em ambientes a que nos ligam laços espirituais.

Experiência de vida, isso é o que de mais importante trazemos de uma viagem.

Não são bens materiais, não são fotos e vídeos, o que de mais valioso uma viagem resulta, mas de experiências como as vivenciadas em locais que amamos que nos enriquecem e que alimentam a alma.

Viajar é a arte da admiração e do aprendizado, é alegria e percepção, é sentimento e dedicação.

O Roraima me mostrou como admirá-lo, se revelou a minha curiosidade e me ensinou parte de seus mistérios, o Roraima me trouxe a alegria de estar seguindo o caminho dos meus sonhos, o Roraima é a percepção que a montanha vive, o Roraima é o sentimento da descoberta através da dedicação em querer saber mais sobre seus encantos, encantos que estão em toda parte, nas rochas, nas plantas, nas pessoas, nos animais, na água, sol e terra, encantos que Guimarães Rosa em uma frase, traduziu:

“O mundo é mágico, as pessoas não morrem, ficam encantadas”.

Vale dos Cristais

Flávio Varricchio

http://photo.net/photos/FlavioVarricchio

http://www.flickr.com/photos/flavio_varricchio/

Fontes

Grande Sertão Veredas, Guimarães Rosa

http://www.releituras.com/guimarosa_bio.asp

Taurepang, Geraldo Andrello, Antropólogo

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/taurepang/print

Hermann Hesse, A Arte dos Ociosos

http://mtv.uol.com.br/vivendodoocio/blog/vivendo-do-%C3%B3cio-arte-dos-ociosos-hermann-hesse

 

Agradecimentos

A Magno Souza, Lena Matos, e toda equipe da Roraima Adventures, pelo profissionalismo, simplicidade e excelente estrutura e atendimento.

http://www.roraima-brasil.com.br/pt/

Aos guias

Leo Tarola, pelo excelente trabalho e por todos os ensinamentos e amizade e Everaldo “Borracha” também pelo excelente trabalho e bom humor, sua alegria contagiou a todos.

Leo Tarola

 

Everaldo ao centro, de jaqueta verde

Aos carregadores

Eduardo, pela seriedade, paciência e muito boa comida, cozinheiro dos bons

Eduardo

Ronaldo, o mais jovem dos carregadores com 13 anos, de jeito tímido, de poucas palavras mais muita disposição

Ronaldo

Horácio, sempre sorrindo e disposto a ajudar, aqui preparando donplin, um pão frito muito saboroso

Horácio

Pablo, o mais velho entre os carregadores com 47 anos, sempre sorrindo e que pelo lento caminhar e olhar atento parecia curtir muito o caminho e aos demais carregadores, que infelizmente não lembro o nome por não terem nos acompanhado até o final

Pablo

E a todos os integrantes do grupo: Alex Uchoa, Alexandre Pereira, Avelino Martins, Eduardo Gelli, Gisele Rossignoli, Leonardo Azevedo, Marcelo Martins, Monique Lellis, Waldyr Neto

Deixo o meu muito obrigado e até a próxima viagem, quem sabe em terras de Makunaíma.

 

 

Arquivado em: Montanhismo, Viagem Tags: Flávio Varricchio, Leo Tarola, Monte Roraima, Tepui

9 Comentários em "O Monte Roraima é o Mundo – Parte 2"

  1. RAYKA ALMEIDA disse:

    muito bom! lindo! Eu também já estive aí e pude contemplar essa belezas que Deus criou.
    Pretendo ir novamente. Pois é algo inesquecivel. Valeu!

  2. rodrigo coutinho guedes da silva disse:

    meu amigo.
    o monte roraima é a muito um lugar que desejo conquistar.
    estou organizando minha vida pessoal para partir em julho.tentei em março,não deu,passei para maio,também não deu.agora esta tudo certo para julho….
    vendo e lendo esse relato fico muito ansioso para chegar a hora H….
    parabéns pela missão cumprida.

  3. vanessa disse:

    amei… existem lugares fantásticos em nosso estado!!!

  4. Ina Magalhães disse:

    Que maravilha! Pretendo ir em dezembro, agora fiquei com mais vontade ainda. Obrigada pelas belíssimas imagens.

  5. joao carneiro disse:

    lindo, gostaria muito de conhecer, mais ainda não me programei, preciso me preparar, mais vou lar conhecer um dia.

  6. Graça Braga disse:

    Lindíssimo!!! A paisagem confirma tudo….vontade de conhecer….Perfeito…

  7. Obrigado pelo comentário, Rayka, Rodrigo, Vanessa, Ina, João e Graça.
    O Roraima é diferente de tudo que já vivenciei em outras montanhas, é um mundo a parte.

  8. Tetê Chaves disse:

    Belas imagens, Flávio. Estou me preparando para conhecer o Roraima no final do ano. Já estou em estado de êxtase, imagina quando lá estiver!

  9. Legal Tetê,
    a ansiedade deve ser grande em vivenciar o Roraima, boa viagem as terras de Makunaima.

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