Lenda de Makunaíma
No “tempo de origem” (os Taurepang chamam de Pia daktai) homens e animais possuíam a forma humana, pemon-pe. Os irmãos Makunaíma – nascidos da união do sol, Wei, com uma mulher feita de barro – perambulavam à procura do pai, que havia sido raptado pelos Mawari, espíritos maus que habitam o interior das serras. Na região do Monte Roraima encontram novamente o pai cativo, que, uma vez livre de seus raptores, sobe ao céu, abandonando seus filhos na terra.
Os irmãos Makunaíma permanecem na região do Monte Roraima a vagar, seguindo alguns animais – entre os quais a cotia, akuri – a procura de comida. São esses animais que indicam ao herói a “árvore do mundo”, o wadaka, de onde retiravam todos os frutos comestíveis. Extasiado com a abundância dessa árvore, Makunaíma, em um ato de avidez desmedida, a derruba. Do que restou do tronco jorrou muita água, o que veio a provocar uma grande inundação; ao dilúvio, sucede-se um grande incêndio, que destrói os homens e os animais. Após este cataclisma, Makunaíma faz novos homens e novos animais com barro, dando-lhes vida. O monte Roraima, contam os Taurepang, seria a raiz desta árvore que permaneceu após a grande inundação, apontando para sua forma, apesar das grandes proporções, semelhante a um tronco partido.
Este é o episódio mais comumente apontado entre as façanhas de Makunaíma. Em diversas outras, o herói transforma os vários seres com que se depara em rochas.
Ao final, Makunaíma parte em direção a leste, para o outro lado do monte Roraima, deixando para trás um mundo onde permanecem cristalizadas, principalmente nas formações rochosas do território taurepang, diversos de seus feitos.
Depois disso Makunaíma não mais intervém entre os homens, deixando-lhes, porém, uma triste herança: o mundo a que ficam relegados já não possui a mesma natureza daquele em que se vivia antes do corte da grande árvore; os seres de “agora”, sereware, perderam a identidade que outrora possuíam, já não são todos Pemon.
Como não se deixar levar por essas histórias, como não se sentir fazendo parte de algo mágico, misterioso e sublime como os feitos de Makunaima, como observar as inúmeras formações rochosas do cume e não perceber nelas as formas dos seres petrificados.
É impossível não se deixar seduzir pelos mistérios do Roraima, a sensação é de estar sendo observado, de ter os passos vigiados pelos seus guardiões, que como um professor disciplinador, não perdoa erros, mas os provocam como forma de aprendizado e respeito.
Uma experiência enriquecedora
Viagens devem resultar sempre na vivência de experiências e experiências valiosas só podem ser alcançadas em ambientes a que nos ligam laços espirituais.
Experiência de vida, isso é o que de mais importante trazemos de uma viagem.
Não são bens materiais, não são fotos e vídeos, o que de mais valioso uma viagem resulta, mas de experiências como as vivenciadas em locais que amamos que nos enriquecem e que alimentam a alma.
Viajar é a arte da admiração e do aprendizado, é alegria e percepção, é sentimento e dedicação.
O Roraima me mostrou como admirá-lo, se revelou a minha curiosidade e me ensinou parte de seus mistérios, o Roraima me trouxe a alegria de estar seguindo o caminho dos meus sonhos, o Roraima é a percepção que a montanha vive, o Roraima é o sentimento da descoberta através da dedicação em querer saber mais sobre seus encantos, encantos que estão em toda parte, nas rochas, nas plantas, nas pessoas, nos animais, na água, sol e terra, encantos que Guimarães Rosa em uma frase, traduziu:
“O mundo é mágico, as pessoas não morrem, ficam encantadas”.
Flávio Varricchio
http://photo.net/photos/FlavioVarricchio
http://www.flickr.com/photos/flavio_varricchio/
Fontes
Grande Sertão Veredas, Guimarães Rosa
http://www.releituras.com/guimarosa_bio.asp
Taurepang, Geraldo Andrello, Antropólogo
http://pib.socioambiental.org/pt/povo/taurepang/print
Hermann Hesse, A Arte dos Ociosos
http://mtv.uol.com.br/vivendodoocio/blog/vivendo-do-%C3%B3cio-arte-dos-ociosos-hermann-hesse
Agradecimentos
A Magno Souza, Lena Matos, e toda equipe da Roraima Adventures, pelo profissionalismo, simplicidade e excelente estrutura e atendimento.
http://www.roraima-brasil.com.br/pt/
Aos guias
Leo Tarola, pelo excelente trabalho e por todos os ensinamentos e amizade e Everaldo “Borracha” também pelo excelente trabalho e bom humor, sua alegria contagiou a todos.
Aos carregadores
Eduardo, pela seriedade, paciência e muito boa comida, cozinheiro dos bons
Ronaldo, o mais jovem dos carregadores com 13 anos, de jeito tímido, de poucas palavras mais muita disposição
Horácio, sempre sorrindo e disposto a ajudar, aqui preparando donplin, um pão frito muito saboroso
Pablo, o mais velho entre os carregadores com 47 anos, sempre sorrindo e que pelo lento caminhar e olhar atento parecia curtir muito o caminho e aos demais carregadores, que infelizmente não lembro o nome por não terem nos acompanhado até o final
E a todos os integrantes do grupo: Alex Uchoa, Alexandre Pereira, Avelino Martins, Eduardo Gelli, Gisele Rossignoli, Leonardo Azevedo, Marcelo Martins, Monique Lellis, Waldyr Neto
Deixo o meu muito obrigado e até a próxima viagem, quem sabe em terras de Makunaíma.
muito bom! lindo! Eu também já estive aí e pude contemplar essa belezas que Deus criou.
Pretendo ir novamente. Pois é algo inesquecivel. Valeu!
meu amigo.
o monte roraima é a muito um lugar que desejo conquistar.
estou organizando minha vida pessoal para partir em julho.tentei em março,não deu,passei para maio,também não deu.agora esta tudo certo para julho….
vendo e lendo esse relato fico muito ansioso para chegar a hora H….
parabéns pela missão cumprida.
amei… existem lugares fantásticos em nosso estado!!!
Que maravilha! Pretendo ir em dezembro, agora fiquei com mais vontade ainda. Obrigada pelas belíssimas imagens.
lindo, gostaria muito de conhecer, mais ainda não me programei, preciso me preparar, mais vou lar conhecer um dia.
Lindíssimo!!! A paisagem confirma tudo….vontade de conhecer….Perfeito…
Obrigado pelo comentário, Rayka, Rodrigo, Vanessa, Ina, João e Graça.
O Roraima é diferente de tudo que já vivenciei em outras montanhas, é um mundo a parte.
Belas imagens, Flávio. Estou me preparando para conhecer o Roraima no final do ano. Já estou em estado de êxtase, imagina quando lá estiver!
Legal Tetê,
a ansiedade deve ser grande em vivenciar o Roraima, boa viagem as terras de Makunaima.