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Dificuldades no Caminho de Santiago – parte 4

Escassez de água


1. Pireneus – 10 km


2 km depois da imagem da Virgem de Biakorre, se abandona a estrada e se entra por uma trilha à direita, que vai margeando o Monte Leizar Atheka. Logo a seguir encontramos a Fonte de Roldán, o cavalheiro, sobrinho de Carlos Magno que morreu emboscado na batalha de Roncesvalles, originando o fato a famosa gesta medieval, La Chanson de Roland. É a última fonte até Roncesvalles.


Não há uma única casa no trajeto, só bosque, e o que se encontra são alguns rebanhos, de ovelhas ou gado. Nunca encontrei um carro, na pequena estrada, nem pastores, nem moradores. Só o silêncio, algum som de chocalho e as nuvens que rodeiam o peregrino.

A última fonte, cerca de 17 km antes de Roncesvalles
É mais que necessário levar água suficiente neste trajeto, que não é muito pequeno e exige bastante do peregrino, pois é cheio de curvas e subidas. O Collado Lepoeder, o ponto alto deste trecho nos Pirineus, fica mais ou menos na metade do Caminho, da fonte até Roncesvalles

2. Monte do Perdão – 6 km
Depois de Cizur Menor, um povoado é atravessado, Zariquiegui, mas não existem bares e em todas as vezes, não vi uma única pessoa nas ruas. Existem alguns pequenos regatos, e já perto do alto do Monte, uma fonte, a da Reniega, local de uma das belas histórias do Caminho, a da tentação do peregrino que estava com sede subindo o Perdão. Depois da descida do monte, que como já falei exige atenção e esforço do peregrino, o pueblo mais próximo é Uterga, a mais 6 kmde distancia. O trecho não é longo, mas a subida e o esforço da descida, aumentam a necessidade de água.

Fonte da Reniega, seca, na subida do Perdão

Paisagem vista do Monte do Perdão

3. Villamayor de Monjardim – Los Arcos – 12,4 km
Este é também um trecho em que não existe uma única casa. Só plantações e algum trator, dependendo da época agrícola. Depois da colheita, não se encontra nada, só imensos campos, até Los Arcos.


Um solitário monte de feno debaixo do arco-iris, no caminho solitário para Los Arcos

4. Ventosa a Najera – a 10 km
Não há bares, não há fontes. Os pueblos aparecem à distancia. O rio Yalde, que é transposto, dependendo da estação do ano, pode exibir só pedras no seu leito

O rio Yalde

5. Azofra a Cirueña – 9,2 km
Subida, sem água, sem fontes, sem casas. Cirueña fica a alguns metros, mas não se passa dentro da cidade. Este caminho não é o original. O Caminho original está hoje debaixo de plantações e o atual caminho foi desviado para passar por este pueblo, e a ele foi acrescido a subida bem pronunciada, que não existia no Caminho antigo.

6. Villafranca Montes de Oca – San Juan de Ortega – 12 km
Uma fonte logo depois de Villafranca, depois, o “tobogã”, cheio de subidas e descidas, não tem uma única fonte até San Juan de Ortega. Não há casas, só bosque e canto de pássaros. Mesmo no Monumento aos Caídos da Guerra Civil Espanhola, não há uma fonte.


Monumento a los caidos e a Federico Garcia Lorca

7. Carrion de los Condes – Calzadilla de la Cueza – 17, 2 km

Este é o maior trecho sem água. Depois da Abadia de Benevivere, não há uma única casa, nada. Só intermináveis campos. E nunca se sabe onde está Calzadilla. Nada se vê no horizonte. Depois de muito tempo, que se magnífica pelo horizonte sem fim, surge uma torre. Algum ou muito tempo depois, dependendo do seu cansaço, se vê que a torre é de uma capela do cemitério. Mas só.


Depois, surge Calzadilla, com a imagem do albergue do César Acero, e desde a era Acacio – Orietta, com uma grande bandeira brasileira na janela, costume mantido pelo baiano Sandro. É uma visão de oásis. Não sair NUNCA de Carrión sem água. E bastante água.


Caminho para Calzadilla de la Cueza (foto Graciliano Menezes)

8. Arzúa – Rua – 17, 6 km (Salceda)

Passa-se por um pueblo, mas não há bares.O primeiro que se encontra é em Rua. Aliás, há dois no povoado, ambos à direita do Caminho. O segundo é da tia Dolores, uma galega simpaticíssima que faz uma ótima empanada, deixa tirar as meias (nem todo bar permite isso!), secá-las ao calor da lareira, quando está chovendo, o que ocorre quase sempre na Galicia, e gosta muito de uma prosa, até parece mineira…

Tia Dolores e peregrinas
Arquivado em: Deuter, Trekking, Viagem Tags: Trekking, Viagem

2 Comentários em "Dificuldades no Caminho de Santiago – parte 4"

  1. Querida Clinete acompanho sempre suas dicas atraves do Grupo de Santiago e achei ótima a idéia de falar deste tema (água no Caminho) pode ser muito útil para quem vai!!! Eu que não tive problemas com a falta de água durante o Caminho, alias, nao tive problemas com nada, diga-se de passagem!!! Meu caminho foi maravilhoso, magico e penso nele todos os dias!!!
    Beijo no seu coração e novamente Parabens!!!!

  2. Clinete disse:

    Obrigada, Laila.
    O caminho é sempre maravilhoso.
    Fiz este texto depois que ouvi um peregrino que frequentava reuniões de peregrinos há mais de um ano, falar que quase morreu de sede no trecho Carrion – Calzadilla de la Cueza.
    Prudencia e bom senso são muito importantes em uma rota que é feita pela primeira vez.
    !Buen Camino!

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