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75 Horas

Não me aventuro, não considero as minhas andanças pelo mundo natural como aventuras, mas como um compromisso com a vida que escolhi, um comprometimento com o que me faz sentir mais vivo.

Comprometimento que não vem somente da contemplação do mundo natural, mas da minha interação com os seus elementos. Cada planta, rocha e animal têm uma história que quando compreendida nos mostra a formação da paisagem, cada elemento é parte de uma cadeia de eventos que conta a história biológica e geológica do planeta, o que me fascina muito, buscar essa integração com o meio é uma das formas que tenho de realmente contatar e compreender a natureza.

Seguindo o meu caminho, dessa vez retornei ao Parque Nacional do Caparaó para cinco dias de acampamento no Terreirão, dois na companhia dos amigos Marcelo Moura e Rodrigo Valero, entre outros, e pouco mais de três sozinho, somente eu e a montanha, já que todos foram embora após o feriado.

Foram as minhas 75 horas de quietude e admiração

75 horas em que a montanha foi devolvida a seus verdadeiros donos:

as plantas, os bichos, o vento, a chuva, o sol e a lua

 

 

75 horas em que o vento soprava para longe a má energia de quem visita esse ambiente com uma busca utilitária que reduz a natureza a um bem de consumo, a um meio de conseguir benefícios materiais

 

 

75 horas em que a chuva apaga os rastros de quem destrói seus habitantes mais frágeis, as plantas, que são pisoteadas e arrancadas quando usadas como apoio por aqueles que na vaidade de “conquistar” o cume, não medem esforços em destruir, mesmo que inconscientemente, a exuberante e delicada riqueza vegetal desse ambiente tão vulnerável.

 

O fim não justifica os meios, não só o cume interessa, todo o caminho merece respeito.

 

 

75 horas em que as nuvens repousando calmamente em sua cama nas montanhas, separam o egoísta mundo dos homens do majestoso e nobre mundo onde o céu encontra a terra, o mundo das montanhas, dos sonhos onde os homens têm a percepção de sua insignificância diante de tanta grandeza.

 

 

75 horas de admiração as maravilhas da natureza, como o formado pelo fenômeno atmosférico espectro de Brocken, que projeta uma alongada sombra no nevoeiro rodeada por um brilhante e colorido arco iris

 

 

75 horas de fuga desse tempo de tecnologia e dinheiro, de guerra e ambição, um tempo que pode ter seu encanto e grandeza, mas que com a melhor boa vontade não posso aprovar e amar, apenas tolerar do melhor modo possível.

 

 

75 horas onde sentimentos comuns na caótica vida moderna que aprisiona o homem das cidades, como os de comandar, conquistar ou explorar, combater ou organizar, dão lugar aos serenos sentimentos da natureza;

o observar, escutar, admirar, se encantar

 

 

75 horas de adaptação as exigências de uma vida mais natural e primitiva, onde as únicas necessidades são as necessárias para a sobrevivência:

alimento, água e abrigo.

 

 

75 horas inspirado nas sábias palavras de Thoreau:

 

Fui para os bosques viver de livre vontade,

Para sugar todo o tutano da vida…

Para aniquilar tudo o que não era vida,

E para, quando morrer, não descobrir que não vivi.

 

Referências bibliográficas

Hermann Hesse, Pequenas Alegrias

http://salomaorovedo.blogspot.com.br/2011/06/hermann-hesse-alegria-de-viver.html

Henry David Thoreau, Walden ou A vida nos bosques

http://pt.wikipedia.org/wiki/Walden

 

Arquivado em: Educação Ambiental, Minimo Impacto, Montanhismo, Trekking, Viagem Tags: Flávio Varricchio, Parque Nacional do Caparaó

3 Comentários em "75 Horas"

  1. Mario Nery disse:

    O Caparaó é um parque absurdamente lindo! Tenho que voltar lá em breve. Belas fotos Varricchio!

  2. Valeu Mário, sem dúvida um belo parque, onde apesar da visita desordenada a natureza sobrevive,

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